Altímetro de três ponteiros

Quando os aviões pressurizados entraram ao serviço no início dos anos 50, a sua altitude de cruzeiro subiu para cima dos 2000 pés, ou mesmo 30000 pés. Para manter a máxima velocidade terrestre possível e poupar combustível, a descida devia começar o mais tarde possível e com a introdução de speedbrakes foi possível que as razões de descida pudessem atingir os 1500 pés ou mais por minuto, em flagrante contraste com os 200 pés por minuto praticado anteriormente, em aviões não pressurizados.
O altímetro convencional dos anos 50 tinha três ponteiros. Um ponteiro indicava a altitude em centenas de pés outro em milhares e um terceiro em dezenas de milhares de pés. Como os dois primeiros ponteiros rodavam rapidamente durante a descida, estes ocultavam temporariamente o terceiro ponteiro. Na última etapa da descida os pilotos de linha bastante atarefados com os procedimentos da aproximação e aterragem, tomando conhecimento do relatório atmosférico e das instruções da torre de controlo, podiam facilmente ler erroneamente o altímetro e descer abaixo da altitude para a qual tinham obtido autorização. Isso aconteceu num fim de tarde de Abril de 1958, com um Viscount com uma tripulação de cinco elementos e sem passageiros, que estava a voar para Prestwick, para iniciar um voo charter no dia seguinte, tendo sido possível ver a pista ainda a tempo de acelerar ao máximo, e aterrar de qualquer maneira, causando alguns estragos na estrutura e pneus cortados.


Como resultado directo de tais acidentes o Air Registration Board regulamentou que todos os Britannia, Comets and Viscounts deveriam ser equipados com o altímetro Kelvin Hughes. Este manteve os três ponteiros mas introduziu no mostrador uma bandeira às ricas que ficava progressivamente mais visível assim que o avião passava através do nível 15.0 (15000 pés). As companhias aéreas foram instruídas para completar a modificação em todos os aviões a operar acima dos 20000 pés até ao fim de Setembro de 1959.
Em Fevereiro de 1964 um Cometa IV estava a fazer uma aproximação nocturna à pista de Nairobi, cuja elevação era de 5500 pés. O co-piloto estava aos comandos e o comandante estava fazendo as funções normais do co-piloto, leituras de aproximação e checks de descida. O QNH era 1020.5, valor que o comandante introduziu na sub-escala do altímetro. O QFE era 839, um número consideravelmente baixo devido à elevação do aeroporto. Isto requeria que o co-piloto perdesse algum tempo rodando o pequeno botão da sub-escala do altímetro. Quando ele atingiu 938 ele obteve uma apreciação visual de 839 milibars. Um milibar representa 30 pés em altitude. O altímetro do co-piloto tinha sido alterado para ler cerca de 3000 pés mais alto. Ambos os pilotos deviam ter verificado que a diferença entre os seus altímetros equivalia à elevação do aeroporto acima do nível do mar, mas não o fizeram e a dez milhas da aterragem o horizonte do Sistema de Aterragem por Instrumentos (ILS) mostrava que o avião estava demasiado baixo. O co-piloto olhou em frente e viu que a pista e as luzes de aproximação estavam completamente alinhadas. Enquanto tentava obter a máxima potencia dos motores, o Comet atingiu o chão, e foi com muita sorte que a aterragem apenas danificou o trem de aterragem e pouco mais.
Por volta de 1974, os altímetros de três ponteiros foram substituídos por um de indicação digital como consequência de numerosos erros de leitura e acidentes com eles relacionados, sendo uma das inovações as luzes avisadoras aos 1000 pés. O rádio altímetro começou também a ser instalado e avisos sonoros foram também introduzidos e sinais visuais apareciam quando a altitude seleccionada pelo piloto era ultrapassada.
Contudo erros humanos continuaram a por em perigo os aviões e seus ocupantes.

Nessa altura os pilotos eram pressionados para reportar quaisquer ocorrências, não havendo penalizações, de modo a que todos os pilotos pudessem aprender com os casos reportados, tendo o comandante reportado naturalmente o seu caso. Ele não foi afastado mas ambos os pilotos foram olhados como culpados e vários procedimentos disciplinares foram tomados, o que indignou o comandante que acabou por se demitir dado a sua licença ter expirado, após 19000 horas de voo, quase inteiramente exercidas como comandante.
Talvez uma das maiores exigências que se coloca à concentração dos pilotos seja após terem voado toda a noite e sejam requisitados de novo para fazer uma aproximação por instrumentos com visibilidade fraca e o nível das nuvens baixo.
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