sábado, setembro 22, 2012

Ligação aérea Sevilha-Lisboa - 1927



Na foto de cima, o cardeal IIundáin dá benção ao avião Junker's G24 "Sevilla", que inaugura a linha aérea Sevilha-Lisboa, na presença do Rei Afonso XIII

A inauguração da primeira linha aérea Portugal-Espanha, ocorreu no dia 29 de Abril de 1927, com chegada ao campo de aviação de Alverca às 16h e 37m, do avião Junkers G24 "Sevilla" da UAE (Union Aérea Española), concessionado à SAP (Serviços Aéreos Portugueses), que só viria a ter o primeiro avião de matrícula nacional - Junhers F-13 C-PAAC - em Maio de 1929.

A Alverca chegaram vários convidados, que partiram de Lisboa no comboio das 10.50, e alguns aviões, entre os quais dois "Vickers" do Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, da Amadora, nºs 9 e 3, tripulados respectivamente pelos capitães Costa e Cardoso e tenentes Sérgio da Silva e Torres e um "Avro" tripulado pelo tenente Melo. De Lisboa chegaram também de comboio, o general Vieira da Rocha, director da arma de Cavalaria; o coronel Rivera adido militar espanhol; tenentes-coroneis Aragão representando a Aeronautica e Cifka Duarte representando o general Domingues; majores Portugal e Chaves, capitães Ribeiro e Pinto da Cunha, tenentes Mota, director da base aeronautica de Aveiro, Namorado, Roberto e Moreira de Campos, da Aviação Militar.
 A Aviação Naval  estava representada pelo seu director comandante Aires de Sousa e pelos  comandantes Rosado e Bettencourt, estando a Sociedade Aero Portuguesa representada pelos seus gerentes engenheiros Carlos Empis e Fialho e pelo Conde de Vilas Boas. O Presidente da República não pôde assistir em Alverca à chegada do avião, como estava anunciado, em virtude de se ter prolongado o conselho de ministros, que de manhã se realizou no Ministério das Colónias.

O avião "Sevilla" não chegou, porém, à hora marcada.  A princípio supoz-se que  que por causa do tempo, pois a chuva caiu, nessa altura, abundantemente. A verdadeira causa do atraso foi, porém, por se ter prolongado a cerimónia do baptismo do avião, que se realizou em Sevilha e em que serviu de madrinha a senhorita Pilar, uma das filhas do general Primo de Rivera.

Enquanto o avião não chegava, o tenente Dias Leite subiu num aparelho "Martinsyde", fazendo arrojados exercícios de acrobacia que por todos foram muito admirados. Também o capitão Pinto da Cunha e Carlos Bleck voaram durante algum tempo num "Vicker's", tentando ir ao encontro do avião que se esperava, voltando pouco depois ao campo de aviação de Alverca devido ao mau tempo.

Às 16h e 37m, ouviu-se o roncar dos motores do "Junker's", correndo todos para o campo. Pouco depois a grande aeronave aterrava, mesmo em frente das instalações do Parque de Material Aeronautico. Enorme, todo de alumínio, o avião que foi baptizado com o nome "Sevilla", que no leme já vem pintado, oferece uma grande comodidade aos passageiros, podento transportar oito pessoas.

À cerimónia de baptismo assitiram os reis de Espanha, o principe de Gales, o general Primo de Rivera e alguns outros membros do governo espanhol. A sua madrinha, Dª Pilar Primo de Rivera, ofereceu ao avião a sua fotografia, que ali foi colocada na "cabine" escrevendo-lhe a seguinte dedicatória: "Al avion Sevilla, la madrina le desea mucha suerte". Como não houvesse medalha previamente para ser  oferecida pela madrinha, esta tirou do seu peito uma de Nossa Senhora de Covadonga e ofereceu-a ao avião, acto que muito sensibilizou quantos assistiram à cerimónia.

O "Sevilla" partiu desta cidade às duas horas da tarde, tendo gasto no percurso duas horas e trinta e sete minutos. A bordo viajaram os srs. Marquês de Quintanar, escritor e jornalista, muito versado em assuntos ibéricos, o capitão aviador espanhol Ansaldo, e um seu irmão, aviador civil. Moreno Carachioli, presidente da União Aerea Espanhola, Tomaz Barbadill, vereador da Câmara Municipal de Sevilha e que representava o respectivo alcaide, e Arnote de Wibarrau, representante da agência Fabra.

O "Sevilla" que foi pilotado pelo alemão sr. Wimmer, fez uma viagem esplêndida. Mais tarde, foram os pilotos espanhóis, Coterillo, Gou e Tonda, os primeiros que aterraram em Alverca em serviço comercial. Depois de um lanche na messe dos oficiais, oferecido pela SAP, todos os passageiros e convidados partiram para Lisboa no comboio que saiu de Alverca às 5.20 da tarde.
A entrega da primeira mala de correio aéreo, que fez a viagem completa Sevilha-Lisboa em avião, a bordo do Junker's G24 Ge M-CFFA

Depois desta viagem inaugural, o avião "Sevilla" partiu de Alverca para Madrid às 15.30 do dia seguinte, sábado, levando os passageiros e personalidades espanholas de regresso, mais os tenentes-coroneis Cifka Duarte e Ferreira do Amaral, respectivamente sub-director da Aeronautica e comandante da Policia Cívica de Lisboa, capitão Cabrita, representando o general Luiz Domingues, inspector da Aeronautica, eng Carlos Empis da SAP e o jornalista Felix Correia. O tenente-coronel Duarte levou para Madrid duas mensagens do sr. presidente da República, uma dirigida a D. Afonso XIII e outra ao general Primo de Rivera. 

O avião "Sevilla"deveria regressar a Alverca, na segunda-feira seguinte, dia 2 de Maio 1927, pela 14.00, o que não aconteceu devido a uma avaria no motor esquerdo, quando voava perto de Cáceres. O piloto foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência num terreno lavrado, com trigo já crescido, situado a 35 kms de Trujillo e a 80 kms de Cácerres, sem ninguém ter ficado ferido. Os quatro passageiros portugueses acabaram por ser levados até à estação de comboios de Cáceres, por um automóvel do "Ayuntamiento" de Trujillo, onde apanharam o combóio das 05.00 da manhã. À chegada a Lisboa, o tenente-coronel Ferreira do Amaral entregou ao Administrador dos Correios e Telégrafos, a mala de correspondência de Madrid que vinha no avião "Sevilla".

Não se pode dizer, com propriedade, que se tratou da 1ª mala de correio por via aérea, trocada entre Portugal e Espanha, uma vez que atravessou a fronteira numa carruagem de combóio. A entrega da primeira mala de correio aéreo fez-se, muito provávelmente, no dia 5 de Maio de 1927, através do avião Junker's G24 Ge com a matrícula M-CFFA, outro avião concessionado pela UAE à SAP, que não teve qualquer percalço na viagem até Lisboa. (Créditos: Jornal de Notícias, Diario de Lisboa, Domingo Ilustrado e diário ABC).

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