terça-feira, outubro 23, 2018

50º aniversário da Aviação Militar - Alverca 1964

No dia 17 de Maio de 1964, domingo, pela manhã, realizaram-se no aeródromo de Alverca, as cerimónias de encerramento das comemorações do cinquentenário da Aviação Militar, a que presidiu o sr. Presidente da República, sr. almirante Américo Tomás que chegou ali às 10 horas, tendo sido recebido pelo ministro da Defesa e Comandante da 1ª Região Aérea.

Depois de passar em revista à guarda de honra, constituída por um batalhão de pára-quedistas e ouvir a «Portuguesa» executada pela banda da Força Aérea, dirigiu-se para junto do obelisco que ia ser inaugurado.

Junto ao obelisco, os pioneiros da Força Aérea aguardam o momento de serem condecorados
Ao acto assistiram os ministros do Exército, Interior, Ultramar e Corporações, subsecretários da Indústria, Obras Públicas, Agricultura, Tesouro e Fomento Ultramarino; presidentes da Câmara Corporativa e do Supremo Tribunal de Justiça, chefe e 1º e 2º subchefes do Estado-Maior da Força Aérea, comandantes das unidades aéreas portuguesas, embaixadores da Alemanha Ocidental e da Grã-Bretanha, adidos militares junto das embaixadas, comandantes-gerais da P.S.P. e G.N.R., chefe do distrito, presidentes das Câmaras, oficiais generais de todas as armas e outras entidades de destaque.


Muito público enchia o aeródromo de Alverca, espalhando-se ao longo das pistas, onde iam efectuar-se demonstrações aéreas. Estavam também presentes os pioneiros da aviação que iam receber as insígnias, junto do obelisco. Nas pistas, encontravam-se alinhados aparelhos de todos os tipos, tanto militares como civis, estando representados os aeroclubes da Metrópole.
O bispo de Tiava lançou a bênção ao obelisco comemorativo do 50º aniversário da Aviação Militar, após o que o Chefe do Estado procedeu à cerimónia da sua inauguração, puxando a bandeira nacional que o encobria.
Neste momento, proferiu palavras alusivas ao acto o 2º subchefe do Estado-Maior da FAP, sr. brigadeiro Simão Portugal, presidente da comissão organizadora destas comemorações. Agradecendo a presença do sr. Presidente da República, disse: «Aqui estamos, pois, na primeira etapa das comemorações deste dia 17, junto a um obelisco que simbolizará o esforço desenvolvido nestes cinquenta anos e se projecta para o infinito, de onde contamos receber a bênção e a ajuda magnânime de Deus, Nosso Senhor, para a continuação gloriosa desta grande empresa a que muitos dedicaram a sua vida e outros procuram continuá-la à sombra da bandeira da Pátria que nos deu berço e muito amamos. Não esqueçamos que em 1914 existia apenas uma dezena de aviões e agora, em 1964, contamos já cerca de 6 centenas e que na mesma proporção passámos também de umas dezenas de homens para cerca de 20.000 servidores da mesma causa»
Aludiu, seguidamente, ás relações de colaboração entre a Aviação e a Marinha, lembrando as figuras de Gago Coutinho e Sacadura Cabral e de outros, ali presentes. Referiu-se, por fim, ao simbolismo do obelisco – um avião que da terra se eleva como a libertar-se dos laços que a ela prendem, para levar aos espaços a mensagem da inteligência e da vontade do homem.
O Chefe do Estado impõe as insígnias da «Ordem do Império ao major José Manuel Sarmento de Beires
Seguidamente, o Chefe do Estado impôs as insígnias da «Ordem do Império» aos seguintes pioneiros e heróis da nossa Aviação: coronéis António de Oliveira Viegas e José Pedro Pinheiro Correia; majores José Manuel Sarmento de Beires, Sérgio da Silva, Manuel Moreira Cardoso e Humberto da Cruz; tenente Manuel Gouveia, sargento-ajudante Manuel António e Carlos Eduardo Bleck (civil).

O Chefe do Estado entrega a medalha comemorativa ao marechal Craveiro Lopes
Depois, fez a entrega da medalha comemorativa aos pioneiros, começando pelo sr. marechal Craveiro Lopes, que estava presente. Receberam estas medalhas os srs.: coronel Pedro Fava Ribeiro de Almeida, brigadeiro António de Sousa Maia, coronel Salvador A. Cifka Duarte, tenente-coronel Carlos Esteves Beja, tenente-coronel Francisco Cunha Aragão, major Sarmento Beires, tenente-coronel Luis da Cunha e Almeida, major Alfredo Duvalle Portugal, comandante Pedro Ferreira Rosado, engº Viriato de Castro Cabrita, brigadeiro Teófilo Ribeiro da Fonseca, dr. Major José Antunes Cabrita, major Jorge de Almeida Ávila, general Alfredo Cintra, capitão João Falcão Ramalho Ortigão, coronel António de Oliveira Viegas, brigadeiro Luciano Granate, Jacinto José de Moura, brigadeiro Anselmo Vilardebó, major José P. Pinheiro Corrêa, capitão Francisco de Sousa, coronel Jorge Metelo Nápoles Manuel, major Amado da Cunha, tenente Manuel Gouveia e sarg-ajud. Manuel António. Alguns, porém, não puderam assistir, tendo sido representados no acto.
Acabada esta cerimónia, o sr. Presidente da República, acompanhado pelo ministro da Defesa e subsecretário de Estado da Aeronáutica, passou revista aos aviões militares e civis, dirigindo-se, então para a tribuna de honra, de onde assistiu ao desfile terrestre, que reuniu um total de 1970 homens da força aérea, comandados pelo coronel Tavares Monteiro. Desfilaram forças das bases nº 2 e nº 3, um batalhão de caçadores pára-quedistas, Polícia aérea e tropas do ar de todas as unidades da FAP.
Desfile das várias forças militares.
Aviões T-33 numa passagem baixa sobre a pista de Alverca

Aviões F-86 da Base Aérea nº 5 em exibição

Aviões F-86 da Base Aérea nº 5 numa formação em losango

Aviões T-33 executam a figura acrobática conhecida como «descasque da banana»
Aviões F-86 lançando bombas «napalm» sobre um alvo
Após este desfile, efectuou-se uma curiosa demonstração aérea, incluindo acrobacias, apresentação de aparelhos especiais, bombardeio com bombas de napalm incidindo num alvo, voos de caças de jacto que fizeram a ultrapassagem da barreira do som, etc. Alguns destes aparelhos eram de fabricação nacional.

Um avião T-37 da Base Aérea nº 1 numa passagem baixa na pista de Alverca
No dia anterior, em 16 de Maio de 1964, despenhou-se no rio Tejo, perto de Alverca, um avião T-37 da Base Aérea nº 1, quando treinava para a exibição do dia seguinte, tendo morrido o alferes Encarnação Pinto.



O último número do festival aeronáutico de Alverca foi o lançamento (de aviões JU-52 e C-47) de 90 pára-quedistas, sob a direcção do capitão pára-quedista Araújo e Sá
Finda esta demonstração, o sr. Presidente da República e demais entidades, dirigiram-se para os hangares das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, onde o sr. almirante Américo Tomás inaugurou uma interessante exposição que documentava as actividades da nossa aviação ao longo dos últimos 50 anos. Todas as unidades da Metrópole estavam representadas num «stand» e as do Ultramar por meio de fotografias.


Antes de se retirar, o Chefe do Estado teve palavras de elogio para os primeiros heróis da aviação portuguesa, realçando o significado destas comemorações.
Penso que muitos ex-colegas das OGMA e público de Alverca e arredores, se recordam deste dia e das exibições aéreas, bem como do acidente do T-37 que se despenhou no Tejo em frente às OGMA. Quem quiser contribuir com algum pormenor interessante, para enriquecer este post, é bem vindo.

Fontes de informação:
Revista Mais Alto 062 - Junho 1964
Diário de Lisboa de 17 de Maio de 1964

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