sexta-feira, novembro 06, 2015

50 anos do F-104G Starfighter nas OGMA

Passados 50 anos do início da manutenção do caça F-104G Starfighter, avião bi-sónico caracterizado pela sua elevada tecnologia, nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, que proporcionou uma experiência muito gratificante, não é demais lembrar este acontecimento e seus protagonistas, alguns dos quais já não se encontram entre nós.
Na sequência da mudança da estratégia oficial da NATO no final dos anos 50 e com a Espanha fora da NATO, são assinados mais de 20 acordos e compromissos no campo da defesa entre os responsáveis políticos e militares de Portugal e da RFA de 1959 até 1962.
Entre outros compromissos, Portugal aceitou, através de investimentos alemães, a criação da BA11 em Beja, para base e treino operacional da Luftwaffe, e o desenvolvimento das OGMA em Alverca para assegurar as grandes manutenções dos aviões alemães (Noratlas, F-104G Starfighter e mais tarde Transall). O acordo incluiu a construção do Hangar 9, do Hangar 10, Complexo “TRITON”, Centro de Instrução e Refeitório do Pessoal associado.

Inicio construção do complexo "Triton" com o hangar 9 ao fundo (Crédito: Arquivo FAP)

Construção hangar 10 e Complexo Triton. (Crédito: Arquivo FAP)
No segundo semestre de 1964, as OGMA enviaram um grupo de oficiais, engenheiros e técnicos, à Escola nº1 de Kaufbeuren, na Alemanha, para especialização na manutenção do F-104G.

Grupo que se deslocou Escola nº1 de Kaufbeuren, na Alemanha, em 1964.
No regresso às OGMA, este grupo organizou e conduziu cursos semestrais no Centro de Instrução, formando os futuros técnicos de manutenção deste avião. No dia 24-11-1965, foi inaugurado oficialmente o Centro de Instrução e entregues os diplomas aos primeiros 60 formandos do 1º curso, a que se seguiram outros cursos, atingindo um total de 300 técnicos. Ver mais aqui.
Diagrama em corte do avião F-104G

O F-104G (Lockheed Model 683-10-19), externamente similar ao F-104C, foi a versão do Starfighter construída na Europa para os aliados da NATO. Era equipado com o motor General Electric J79-GE-11A, com 10,000 lb.s.f. dry e 15,600 lb.s.f. com afterburning atingindo a velocidade máxima de 1146 mph aos 50,000 pés e 1328 mph aos 35,000 pés.
Com o leme de direção mais largo e alto, como o do F-104B/D, que permitia uma grande melhoria na estabilidade longitudinal em valores de Mach elevados, era equipado com o sistema de controlo de tiro Autonetics F15A-41B NASSARR com canhão Vulcan M-61 Vulcan e com o sistema de navegação inovador baseado na plataforma de inércia Litton LN-3.
Painel de instrumentos do F-104G Starfighter

Dada a diversificação técnica implícita, o curso de manutenção do F-104G foi organizado em 11 sectores de especialização, a saber:
01-Célula
02-Motores
03-Hidráulicos
04-Comandos de Voo
05-Armamento
06- Instrumentos
07-Electricidade
08-Controle de Tiro
09-Comunicações
10-Navegação
11-Radar
 
Instructores alemães e portugueses e formandos do 1º curso no CI.

Centro de Instrução e Refeitório do Pessoal.
 
Aula sobre o sistema de combustível.

Distribuição de diplomas no hangar 9 com o JA+121 ao fundo

Brigadeiro Fernando de Oliveira, tenente Catarino do CI e outras personalidades, na entrega de diplomas no hangar 9.

O hangar 9 passou a receber os técnicos formados no CI, enquadrados pelos oficiais alemães de cada especialidade, iniciando-se uma aprendizagem mais prática com o manuseamento dos equipamentos de teste específicos e ensaio dos vários equipamentos e partes dos aviões F-104G estacionados.
Foto de família do pessoal (parte) do F-104G em frente do hangar 9.
DA+116, as instructional airframe at hangar 9, OGMA, July 1965.
DA+245, used as instructional airframe at OGMA, July 1965. (Crédito: www.916-starfighter.de)
Para complementar o curso teórico, seguiram-se aulas práticas, através de testes e ensaios em dois aviões DA+116 e DA+245, estacionados no hangar 9, com supervisão dos técnicos alemães.
O DA+116, mais tarde passou a 20+56 e depois acidentado em 12 Mai 1970, durante uma aterragem em Decimomannu AB, foi retirado do serviço em 26 Set 1985
O DA+245, mais tarde passou a 22+55 e ardeu em Beja após explosão da unidade de arranque, tendo uma lâmina da turbina penetrado a fuselagem, em 15 Junho 1973.  

Pessoal da Navegação junto ao DA+116:Ganaipo, Antunes, Fogoso e eu.  

Pessoal da Navegação junto ao DA+116: Eu, Romana, Ganaipo, Antunes, Ginja, Gilberto e Fogoso.

O colega Vladimir Zola no DA+116. 
Pessoal das Comunicações: Parreira, Dionísio, Maia, Graciano e Daniel. 

Pessoal das Comunicações. Em pé: Dionísio, Daniel e Graciano; de cócoras: Maia e Parreira.
4º curso de Comandos de Voo: Calado,Pinto,Gaspar,Morgado e Nunes

O hangar 9 nas cheias de Novembro 1967.

BB+235 na placa junto ao hangar 9: de pé__, Eu, Mário Pereira, Cabrita, Rovisco, Freitas, Pereira, Teixeira, Carvalho, em baixo:___, Sestelo, Pais e Félix.

Carlos Cantiga, Raposo, Salazar, Figueiredo, Gonçalves e Rovisco junto ao BB+235, na pista de Alverca.
BB+235 a aterrar na pista de Alverca com uso de paraquedas e gancho de segurança.

JA+121 em abastecimento de oxigénio com Carlos Cantiga.

JA+121 rebocado do hangar para o estacionamento em 24 Abril 1967. A revista Mais Alto assinala este dia como histórico na aviação portuguesa, por ter sido o primeiro avião bi-sónico a descolar duma pista nacional (Crédito:Mais Alto Mai 67).

JA+121 no último ponto fixo antes da descolagem (Crédito:Mais Alto Mai 67).

José Martins faz a ultima inspeção antes do voo de ensaio do JA+121.

JA+121 na descolagem em 24 abril 1967 (Crédito:Mais Alto Mai 67).

JA+121 após a aterragem (Crédito:Mais Alto Mai 67).

JA+121 pronto a partir depois da revisão nas OGMA (Crédito:Mais Alto Ago 67).
O JA+121, que alterou nas OGMA a pintura para "camouflage scheme TA-196", mais tarde passou a 23+55 e em Dez 1973 foi abatido ao serviço e canibalizado para peças sobressalentes.

Ensaio de motor J-79 do F-104G. (Crédito:Mais Alto Out 66).

JA+248 em ensaios na pista (Crédito:Mais Alto Mai 67).

O JA+248, que alterou nas OGMA a pintura para "camouflage scheme TA-196" em Dez 1965, passou a 25+66, foi retirado do serviço em 4 Dez 1983 e colocado em 2007 no Tecnik Museum Speyer, na Alemanha. Fica perto de Heidelberg e do espectacular museu Sinsheim (Crédito: www.916-starfighter.de)

Em finais de 1966, a RFA atravessou uma crise económica sem precedentes, que obrigou a «drásticas reduções orçamentais», em especial ao nível militar, que tiveram consequências directas nas relações luso-germânicas. Aliado à crise, em Dezembro de 1966, subiu ao poder um governo de coligação entre a CDU-CSU e o SPD, que originou uma renovação da política externa alemã, caracterizada por um novo fôlego na aproximação à Europa de Leste e à União Soviética.
Como consequência, em 1968, foi abandonado o projecto “Triton”, que nunca chegou a ser utilizado pela Luftwaffe na inspecção e reparação de motores de turbina a jacto J-79, do avião F-104G e motores Roll’s Royce TYNE do avião Transall, acabando depois por ser convertido em moderna oficina de reparação e ensaio de motores e acessórios. Seguiu-se o fim da manutenção do F-104G nas OGMA, tendo os técnicos sido absorvidos por outros sectores, nomeadamente Fiat G-91, Noratlas, Transall, Avionicos e outros sectores.

Complexo Triton nas OGMA em fase de acabamento. (Crédito:Mais Alto)

Após o fim da manutenção do F-104G nas OGMA, aviões F-104G da Luftwaffe, constituindo um Grupo de duas esquadras, continuaram a voar em treinos operacionais a partir da Base de Beja (BA 11), criada em 1964, na sequência do Acordo Luso-Alemão, desde 1970 até 1973.

27+22 e outros aviões na BA11 em Beja em 1984. (Crédito: www.916-starfighter.de)
A partir de 1973, a BA11 funcionou como aeródromo de apoio a aviões militares quer da Força Aérea Portuguesa quer da Força Aérea Alemã e, ainda, a aviões comerciais da Lufthansa e TAP, para voos de treino. A assinatura do Acordo Luso-Alemão sobre a utilização da Base, em 16 de agosto de 1979, deu origem a um desenvolvimento significativo da atividade aérea, com a instalação de uma Esquadra de aviões Alpha-Jet, da Força Aérea Alemã, para cumprimento de missões de treino operacional, incluindo tiro no Campo de Tiro de Alcochete.
26+30 aterrando na pista de Beja em 1984. (Crédito: www.916-starfighter.de)

20+99, anterior JD+245, chegou a Beja em 26-02-1985, pintado com as marcas do aniversário da "Luftwaffe in Portugal" em 1988. O titulo diz :"Taktisches Ausbildungskommando der Luftwaffe in Portugal" e na cauda lê-se "Red Carpet Day 1988" FlgHFw-Brandschutz Beja 20+99. (Crédito: www.916-starfighter.de)

Em 1993, a não renovação do Acordo Luso-Alemão sobre a utilização da BA11, determinou o fim da atividade da Força Aérea Alemã, ficando o avião 20+99 como monumento à entrada da base aérea, com pintura cinzenta e nariz preto.

20+99, pintado a cinzento e nariz a preto, como monumento na entrada da BA11, em Beja. (Crédito: www.916-starfighter.de)

Bolo comemorativo do 50º aniversário do F-104G nas OGMA, consumido no 21º encontro anual dos ex-OGMA, em 5 Dezembro 2015.

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