sábado, maio 02, 2015

As OGMA no final de 1940

O "Mundo Gráfico" de 30/10/1940 publicou o seguinte artigo sobre as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, que partilho convosco.
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«Portugal constrói aviões»
«Uma organização aeronáutica, qualquer que seja a sua envergadura, vive pela quantidade e qualidade relativas do material que utiliza - pelas condições particulares que caracterizam a aviação portuguesa, o nosso país não pode aspirar a uma indústria aeronáutica de grandes proporções, quando é certo ser o Estado o seu principal e quasi exclusivo cliente. Um progresso contínuo, praticado pela introdução constante de novos melhoramentos, caracteriza a técnica dos últimos anos, vertiginosamente acelerada no capítulo da investigação, quando serve organismos militares em luta – como no caso actual. E o nosso país, analisadas as bases em que se fundamenta o seu Exército do Ar, não poderia acompanhar, a par e passo, a sucessão de continuidade progressiva, verificada nas nações onde a indústria aeronáutica ocupa um lugar de primeira grandeza.

Motor pronto. Última afinação.
Entretanto, há que considerar reparações constantes no material em uso permanente: há que ter em conta a montagem dos aparelhos importados. Mas, além disto – e sobretudo não é necessário evidenciar as considerações anteriores, quando se trata de material do material indispensável para a formação e treino do pessoal da aviação, regra geral sem eficiência militar – nem ela é necessária – e, consequentemente alheio aos problemas resultantes do caminhar incessante da técnica.
Eis pois uma parcela que pode e deve ser construída no nosso país. São os aparelhos de instrução, aqueles que estão sujeitos a maiores desgastes, pelas próprias circunstâncias em que são utilizados. A sua renovação impõe-se, pois, como uma necessidade imperiosa, para que a tarefa da Escola Prática de Aeronáutica, donde saem todos os nossos aviadores, se cumpra com o indispensável rendimento.
Foi este o principio que o Estado adoptou - e muito bem.
As Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, em Alverca, compreendem toda a nossa indústria de aviões. E, podemos afirmá-lo, sem receio de sermos contestados, que tanto pelas instalações, como pelo pessoal especializado que ali trabalha, estão aptas ao modelar desempenho da sua finalidade. Além das reparações em todo o material que o Exército do Ar português tem ao seu serviço e nos aviões civis e comerciais, e da montagem dos aparelhos importados, as Oficinas constroem, actualmente, sob licença, os aeroplanos ingleses de treino «Avro-626» e «Tiger-Moth». Também já ali se construíram - inclusivamente os que realizaram o Cruzeiro Aéreo das Colónias – os aviões «Vicker’s», da mesma nacionalidade. E surpreende, de facto, a perfeição dos aparelhos ali construídos, desde a peça mais insignificante, todas elas sujeitas a uma secção de «controle» onde as dimensões e resistências são rigorosamente verificadas.

Entre duas carreiras, o avião da Aero Portuguesa, da linha Lisboa-Tanger, é cuidadosamente revisto. Operários especializados verificam todas as peças da majestosa aeronave.
Actualmente numa fase de remodelação das várias secções, com a aquisição de maquinaria e ampliação de determinados sectores para satisfazer as exigências sempre crescente duma aviação que, como a nossa e graças ao programa de rearmamento do Governo, atravessa um período sensível desenvolvimento, as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico oferecem aos seus operários óptimas condições de trabalho e de higiene, com amplos e arejados edifícios, maquinaria da mais moderna, refeitório e balneário excelentes. E bem o merecem, porque nos demonstram ali, mais uma vez, que podemos colocá-los entre os melhores do mundo. A indústria aeronáutica portuguesa é uma realidade de que podemos orgulhar-nos e que a maioria desconhece.
Redondo Júnior»
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Notas: A “Aero Portuguesa”, fundada em 22 de Junho de 1934, pelo Comandante João Júdice de Vasconcelos e por António de Medeiros e Almeida, com uma participação maioritária da Air France (75%), iniciou a sua actividade em 14 de Outubro de 1934 com o trimotor «Fokker» apelidado de “Joyeuse” fretado à “Air France”, voando da pista do Parque Aeronáutico de Alverca para Tanger.

Inicialmente a Aero Portuguesa usou um Fokker Vii-3m (CS-AAM), seguindo-se um Amiot Toucan AAC-1 (CS-ADA), dois Wibault Penoet 282-T-12 (CS-ABX e CS-ADB), um deles mostrado na foto acima, um Lokheed 18-07 Lodestar (CS-ADD) e um Douglas C-47A-85-DL (CS-ADB).

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