quinta-feira, maio 15, 2014

Cruzeiro do GIAB, Alverca - 1934

O Grupo Independente de Aviação de Bombardeamento, começado a formar na Amadora, foi inaugurado em Alverca em 25 de Fevereiro de 1928, sendo o seu primeiro comandante o Major Sarmento Beires.
A 4 de Maio de 1934, sete oficiais (entre eles o seu comandante Major Pinheiro Correia) e três sargentos mecânicos do GIAB, pilotando cinco aviões biplanos Potez 25 A2, realizaram um cruzeiro a Marrocos com regresso a 21 de Maio, tendo como objectivo estudar a organização das aeronáuticas de Espanha e Franca, para além do treino de pilotagem e navegação associado à viagem.

Momentos antes da partida. Da esquerda para a direita: 1º sargento Elias Lobo, Ten. Melo Rodrigues, Ten. Humberto da Cruz, Cap. Sérgio da Silva,  Maj. Pinheiro Correia, Cap. Lopes da Silveira,  Ten. Joaquim Baltazar, Ten. Ciríaco da Silva, Saj. Arnaldo Araújo e 2º Sarg. Dinis da Silva.
O GIAB de Alverca, já tinha entretanto, contribuído para a propaganda da Aeronáutica em Portugal, realizando a volta a Portugal com cinco aviões, percorrendo cerca de 1400 kms, somente com aterragem em dois campos estranhos à sua base.
Sobre a partida do campo de Alverca, transcrevo a descrição pormenorizada, do Diário de Lisboa de 4 de Maio 1934.
«De madrugada, anda com estrelas no céu e luzes na terra, as pesadas portas do grande hangar de Alverca deslocam-se vagarosamente, deixando vislumbrar as silhuetas elegantes dos 15 aviões que ali se abrigam. Á frente, prontos a sair, estão os cinco «Potez» da esquadrilha que vai, dentro de pouco tempo, largar para Espanha e Marrocos.
Soldados do aeródromo, para quem o toque de alvorada soou mais cedo, levam os aparelhos para a pista e alinham-nos contra o vento. São 5h30. Chegam aviadores, dos que partem e dos que ficam.
Com o dealbar do dia chagam jornalistas, fotógrafos e operadores cinematográficos. Uma longa fila de automóveis engrossa pouco e pouco, junto do hangar grande. Entretanto, é colocado na pista outro avião – um «Morane» - que escoltará a esquadrilha até certa distância.


Está tudo pronto. Nas carlingas, cartas de navegação aérea, pequenas malas de bagagem e pouco mais. Junto de cada um dos aparelhos, agrupados no chão, os para-quedas destinados aos respectivos tripulantes. Na «mess» a tripulação da esquadrilha toma café, em conversa animada. 
No campo há já muita gente: os capitães-aviadores Santos Moreira, Dario e Quaresma, o piloto civil Carlos Eduardo Bleck, representantes do Aero Club e do automóvel Club, o capitão Casaleiro, os alferes Quaresma e Tomé e muitos curiosos entusiastas por coisas de aviação. Entre a assistência figuram as esposas de alguns dos aviadores que partem, as quais não ocultam a preocupação, aliás permanente, das famílias dos que voam… Às 7h30, o comando da esquadrilha recebe telefonicamente do sr. Capitão Manuel Ferreira, director do Posto Central de Previsão do Tempo, cujos serviços meteorológicos estabelecidos com grande segurança e precisão têm sido altamente valiosos para a preparação da viagem, novos e completos dados: melhoria geral no sul da península.

Capitão Sérgio da Silva e o mecânico sargento ajudante Arnaldo tomam lugar no Mazagão.
Em face da última informação marca-se para as 8h30 a partida, visto o sr. General Daniel de Sousa, governador miliar de Lisboa, ter anunciado que compareceria a essa hora para saudar os aviadores. Cada tripulação aproxima-se do seu aparelho, baptizados com os nomes de antigas praças portuguesas do Norte de África, pintado a branco sobre o verde oliva da fuselagem, e faz os últimos preparativos.
 No «13» - «Azemor» - vão o major Pinheiro Correia e o tenente Humberto Cruz; o «10» - «Mazagão» - leva o capitão Sérgio da Silva e o chefe dos mecânicos sargento-ajudante Arnaldo; o «1»- «Ceuta»- segue com o tenente Baltazar e o 2º sargento Diniz; o «9» - «Çafim» - conduz o tenente Ciriaco e o 1º sargento Lobo e no «6» - «Casa Branca» - seguem o tenente Melo Rodrigues e o capitão Tadeu da Silveira, como observador da esquadrilha.
O toque de «sentido» anuncia, ás 8h30 em ponto, a chagada do sr. general Daniel de Sousa, que vem sozinho, apeando-se do seu automóvel à entrada da unidade e atravessando o campo a pé. Vai ao seu encontro o major Pinheiro Correia, que lhe agradeceu a honra dada ao Grupo de bombardeamento. Os motores estão já a trabalhar a toda a força. Os pilotos, munidos dos para-quedas, saúdam o governador militar de Lisboa e tomam os seus lugares. O general Daniel de Sousa a todos cumprimenta e abraça por último o comandante da esquadrilha, dizendo-lhe: - É muito interessante a comissão em que seguem e muito útil não só como meio de instrução e treino, mas também como motivo de propaganda da aviação portuguesa. Neste abraço, que é para todos, vão os meus votos de melhor êxito.

Assistência na descolagem dos Potez 25 A2 do GIAB, no Campo de Aviação de Alverca, existente no local hoje ocupado com o DGMFA.
Trocam-se mais saudações, enquanto o activo fotógrafo José monteiro, do Grupo de Bombardeamento, regista os últimos momentos antes da largada. Os cinco aparelhos estão já com todos os seus tripulantes a bordo. Sôa a ordem:
-Retirar calços!
A assistência afasta-se e os aviadores fazem a continência de dentro das carlingas. Começa a deslizar o «13», que é o chefe, e depois todos os outros. Há lenços e chapéus a acenar com entusiasmo.
O general Daniel de Sousa, embora pouco propenso a entusiasmos, acena também sorridente, e diz: -Boa viagem! Muitas felicidades!
Os aparelhos formam em «cunha» e descolam ao mesmo tempo, com grande perfeição. Eram 8h52. Simultaneamente sai o «Morane». A esquadrilha descreve uma curva e vem passar sobre o campo, com rumo ao sul Novas saudações e os elegantes biplanos verdes perdem-se no espaço. Pouco depois regressa o «Morane», que dera escolta. Boas informações: a esquadrilha seguia bem com ventos favoráveis e o tempo a melhorar.
Às 10h05 (hora local), a esquadrilha aterrou no aeródromo de Tablada, a 3 kms de Sevilha, onde eram aguardados pelo cônsul português e aviadores espanhóis.»

Em Sevilha, os aviadores do GIAB junto dos seus congéneres espanhois da Base de Teblada
No dia 5 às 08h10 locais descolaram de Tabladas e três horas depois aterraram em Cazes, Casablanca.

Potez 25 A2 e aviadores do GIAB após aterragem no campo de Cazes em Casablanca.
Seguiu-se Rabat, onde foram recebidos pelo próprio Gen. Joseph Vuillemin, Comandante Geral da Aviação Francesa em Marrocos, depois Marrakech, Meknes e Tetouan.

O general Vuillemin e a colónia portuguesa na recepção aos aviadores  do GIAB em Rabat

Os aviões Potez 25 A2 do GIAB alinhados no Aerodromo de Rabat.
O regresso foi feito via Los Alcazares em Espanha, onde existia a única Escola de Bombardeamento e Tiro espanhola, donde descolaram no dia 21 de Maio, com uma aterragem sem percalços no campo do GIAB em Alverca.

O Major Pinheiro Correia com a esposa e amigos após aterragem no Campo de Alverca.

Percurso do Cruzeiro do GIAB a Espanha e Marrocos em Maio de 1934.
Créditos: Revista Mais Alto nº 365 artigo de 1Sar. Pedro Ferreira, História da FAP de Edgar Cardoso e Diário de Lisboa de 4-05-1934.

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