terça-feira, agosto 14, 2012

O incêndio no PMA - 1926


Do grande incêndio no campo de Aviação de Alverca, ocorrido no dia 20 de Setembro de 1926, que foi capa do Domingo Ilustrado nº 89 de 26 de Setembro de 1926, reproduzo abaixo a notícia sobre o mesmo assunto, publicada no Diário de Lisboa de 21-09-1926:
«A enorme falta de espaço não consente que promenorisemos o que foi em violência e em suma gravidade de prejuizos, o formidável incêndio ocorrido ontem no Parque de Material Aeronautico de Alverca. Limitamo-nos portanto, às notas soltas e rápidas que seguem: No pavilhão incendiado nada se aproveitou. Estavam instaladas ali a garage, central eléctrica, oficina de niquelagem e uma caserna, havendo ainda no 1º andar alojamentos para 25 pessoas com seus haveres.
Pelas 23:30, quando "chauffeur" Manuel Martins enchia o depósito de gasolina de um automóvel, o fluido, gorgolejando, esguinchou de encontro a uma lanterna que o ajudante do motociclista segurava para iluminar o aposento. A gasolina inflamou-se e, dentro de segundos, todo o aposento estava em chamas. Explodiram, seguidamente 3 bidons, cada um deles com cerca de 80 litros de gasolina. Faltou a água, foram inúteis os esforços empregados para conter a impetuosidade da devastação.
Perdeu-se tudo. Um motor de 25 cavalos, outro de 10, uma camionete, uma ambulância, todo o material de niquelagem, duas motos, um automóvel Hudsen ... tudo ...
Depois, passando ao 1º andar, onde àquela hora, estavam já recolhidos, com as suas famílias, os operários e militares que lá habitavam, o fogo lambeu, devorou, reduziu a escombros e a destroços quanto existia. Nem as paredes, nem os ferros das camas, nem as tinas de banho escaparam. Ficou tudo transformado em cinza e ferro velho de sucata.
Salvaram-se os moradores porque o tenente Amado da Cunha, arriscando a vida, se meteu heroicamente por entre as chamas para ir arrancá-los à morte certa que os ameaçava.
Um sargento ajudante chamado Cunha também ficou só com o fato de macaco que tinha envergado e com umas botas rôtas que calçara pouco antes ... para não estragar as novas que durante o dia trouxera. mais nada. Outro, o sargento Conceição, ficou egualmente sem um trapo. Foi preciso que alguém lhe emprestasse roupas para que a mulher e os filhos tapassem a nudez.
Outro ainda, o mecãnico civil Afonso Vedes, andava de de tarde como doido na estação ferroviária a chorar a desgraça que o atingiu. Ficou reduzido à miséria extrema, sem ter cama, sequer para se deitar. O filhito, um menino de três anos, por milagre não ficou na fogueira.
O calor produzido pelo incêndio nos edificios contiguos - o Comando, a Oficina de Motores e a Oficina de Serração - foi tal, e a deflagração produzida pelas explosões foi tão violenta, que algumas armas que se encontravam no Comando, em frente, descarregaram-se por si.
Prejuizos? O sr. capitão Gonçalves, subdirector do Parque e sub-director dos Depósitos, quando o interrogámos a tal respeito, respondeu:
-- Não sei, ainda. Já vê ... Não pode fazer-se por enquanto um cálculo seguro. Só sei dizer-lhe é que .. se não forem 2 mil contos, pouco lhe pode faltar E se há um pé de vento bem podiam chover contos então ...».(Créditos: Diario de Lisboa e Domingo Ilustrado).

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