terça-feira, janeiro 03, 2017

As O.G.M.A. nos anos 30

Em Dezembro de 1939, a Revista do Ar publicou um artigo interessante sobre a actividade das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico nos anos 30, anunciando também o projecto de remodelação e ampliação, que iria ocorrer nos anos 40. Pela sua importância, como contributo para a história das OGMA, deixo abaixo a sua transcrição:
«É interessante apontar que as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico estão a passar por uma fase de ampla remodelação de serviços e de reorganização que, dada a importância que o facto tem, bastante interessa arquivar nas colunas da "Revista do Ar". Todo este trabalho está a ser superiormente orientado, no sentido de que aquele importante estabelecimento fabril do Estado, corresponda cabalmente ao impulso que as entidades governativas têm dado à nossa Aviação, e com o objectivo de a colocarem ao nível das exigências do material moderno, recentemente adquirido pelo Ministério da Guerra.
Dentro das suas possibilidades, as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, vêm há tempo realizando uma obra digna de registo, e pouco a pouco o seu apetrechamento tem sido orientado de forma a acompanhar as necessidades, principalmente da Aeronáutica Militar. A remodelação das várias secções, a aquisição de maquinaria e a ampliação de determinados sectores tem permitido que os trabalhos ali executados correspondam em absoluto ao fim em vista, mercê de uma esplêndida mão de obra, orientada por técnicos competentes.

Entidades oficiais em visita às OGMA (1939).
A adaptação, a que se está gradualmente procedendo, das suas instalações e o aperfeiçoamento do grau de especialização do seu pessoal, habilita-nos a poder contar com outros recursos de trabalho, que permitirão a execução rápida e económica das reparações do material, aproveitando-o ao máximo e contribuindo valiosamente para prolongar o mais possível a sua utilização no treino necessário do pessoal.
Cuidada a segurança do material, reduzem-se, assim, em face deste critério, as despesas de conservação das forças aéreas. Nestes últimos vinte anos de louvável actividade, as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico têm reparado todo os tipos de aparelhos e motores em serviço na Aviação Militar.

Quantas vezes, em face dum acidente, se considera um avião perdido, mas, entrando nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico consegue-se ainda a sua utilização, mercê dos conhecimentos técnicos dos seus engenheiros e da aplicação do seu pessoal. Empregando-se mão de obra nacional e criando uma capacidade elevada de trabalho especializado, que não é fácil improvisar de momento, obteve-se assim, um recurso de valor com que a nossa Aviação possa contar.
Podemos orgulhar-nos da perfeição dessa sua mão de obra nacional que, posta ao serviço da Aviação, tem executado trabalhos dignos de louvor.

Esta acção há-de fazer-se sentir da mesma forma, no que respeita ao material moderno, logo que este, sujeito a uma utilização intensiva, necessitar das suas revisões periódicas e de importantes reparações. Este trabalho de adaptação ao material moderno, já posto à prova, embora em escala reduzida, tem decorrido com segurança incontestável.
Mas, a actividade industrial das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico não se limita apenas a reparações. Ela vai mais longe. E se tomarmos em conta a escassez do nosso meio e a falta de determinados elementos, temos de concordar que é deveras interessante que ali se proceda à construção de aviões de escola "Tiger-Moth" e "Avro-626".

Em Portugal pouca gente tem conhecimento de que em Alverca se fabricam aviões. Anotemos, pois, que alguns desses aparelhos que cruzam o nosso espaço, pintados de amarelo e azul, são aviões de escola construídos nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico. A fabricação destes pequenos aviões de escola, mantém sempre, pelo menos, o interesse proveniente da utilização da mão de obra nacional e do treino e conhecimento que o pessoal adquire e que muito naturalmente, redunda em beneficio do trabalho e reparação de material.
As gravuras que acompanham estas despretensiosas linhas, que outro fim não têm do que chamar a atenção dos nossos leitores para uma obra interessante, mostrando-nos fases de construção de uma série de aviões "Avro-626" e de uma outra de aparelhos "Tiger-Moth", que amanhã alinharão nas esquadrilhas de escola e treino. Os aparelhos estão já na sua fase final de construção, e assim se pode admirar grande parte do trabalho realizado.

Além dessa actividade, as oficinas tem procedido à montagem de aparelhos vindos do estrangeiro, encaixotados. Uma das gravuras apresenta-nos o alinhamento de uma nova série de aviões de caça "Gladiator", recentemente adquirida pelo nosso Governo, cuja montagem está ser executada pelo pessoal das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico.
Mas, dado o seu desenvolvimento, aquele estabelecimento fabril do Estado necessita de ser ampliado, remodelado, quanto às suas instalações. O leitor apreciará a gravura que publicamos na "maquette" das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, que a sua Direcção mandou executar com o fim de praticamente estudar as transformações possíveis e de utilidade e ainda a criteriosa colocação de novas instalações, que as necessidades do serviço aconselhem.

"Maquette" das OGMA para estudo de alterações e melhoramento das instalações (1939).
Da sua apreciação e dos informes que colhemos, concluímos estar em presença de uma futura realização deveras interessante nos seus pormenores, e de uma execução perfeita que define o desejo de trabalhar com critério e acerto.

Por último, um pormenor interessante a registar: os dirigentes das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, dentro do louvável critério de proteger a mão de obra nacional, tem considerado devidamente as condições higiénicas do trabalho dos seus operários. Hoje, o operário daquelas Oficinas, possui o seu refeitório privativo higienicamente montado, onde, num ambiente acolhedor, passa as horas de refeição. Também possuem o seu balneário.
É simpática esta compenetração, de quanto vale cuidar da situação dos operários. Trabalha-se com boa vontade, mantendo-se sempre um ambiente de disciplina, orientada de forma que o operário conheça bem as suas responsabilidades.» (Crédito: Revista do Ar de Dezembro 1939)

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